Bob era um fotógrafo freelance da National Geographic. Estava na
Irlanda para uma série de fotos de castelos e mosteiros da Idade Medieval. Era
mais em hobby do que propriamente um trabalho, afinal era filho único de um
milionário inglês, juntara o útil ao agradável. Um verdadeiro playboy, por onde
passava, deixava sua marca, era num estabelecimento ou numa menina virgem da
localidade. Eram os advogados do pai que mais trabalhavam, sempre consertando
as coisas com dinheiro. Muito dinheiro. A mãe, uma religiosa fervorosa, cansava
de aconselhar o filho e alertá-lo sobre os castigos de Deus. Inaudíveis eram
suas palavras.
Não tinha um corpo avantajado, porém definido e musculoso, semblante
perfeito, olhos claros, pele morena, cabelos longos e com uma lábia sedutora e
infalível para com as garotas inexperientes. Seu principal alvo. Seu ditado era
que toda mulher tinha quer linda e ele o primeiro homem quem ela conheceria.
Naquela pequena cidade, que mais parecia um vilarejo da Idade Média,
não seria diferente. O problema era a falta de mercadoria. As poucas meninas da
vila não haviam alcançado os doze anos e depois eram moças com a juventude se
perdendo e com alguma experiência sexual. O melhor seria terminar de fotografar
os dois castelos próximos e um mosteiro, ainda ativo.
No Santuário, chegara antes do almoço e fora convidado para cear com
alguns monges que ainda viviam naquele lugar esquecido por Deus, como ele
julgara em sua chegada. Porém fora bem recebido e depois de uma sessão de fotos
pelos aposentos, pátios e cemitério, sentara-se junto ao velho abade, uma porta
se abriu e dez jovens em sua maioria entre dezoito e dezenove anos, cabisbaixos
e sussurrando algum tipo de oração, foram se acomodando ao redor da velha mesa
de madeira, descobriram os rostos, eram jovens bem afeiçoados e com olhares
catatônicos. Estão cumprindo suas penitências, disse o abade diante do olhar
surpreso do jovem fotógrafo.
Depois da refeição, os jovens cobriram novamente as cabeças e saíram da
mesma maneira que chegaram. O abade, responsável pelo mosteiro, fez questão de
levá-lo para uma caminhada, que mais pareceu um ato de contrição, o fotógrafo
saiu de lá com a sensação que aquele homem conhecia bem sobre a sua vida, até
mesmo sobre as moças que ele enganava em troca de simples prazeres carnais. Não
deu muita atenção, mas agradeceu a estadia e partiu em direção ao próximo local
a ser fotografado.
Pela pequena estrada de terra batida que o levaria até o alto de uma
colina, passava ao lado de um pequeno rio caudaloso com suas orlas cobertas por
um tipo de junco. Com o calor causticante daquela tarde de verão, não pensou
duas vezes, encontrou uma árvore frondosa, tirou suas roupas, ficando apenas de
cueca, ajeitou-as junto a mochila e a suas câmeras e se dirigiu para a margem
do rio. Testou a profundidade com cada perna, uma de cada vez e foi entrando,
deu um mergulho e foi até a outra margem, outro mergulho e ao sair com sua
cabeça das águas, teve uma visão quase que divina. Uma jovem em pé na estrada
próxima a árvore que deixara seus pertences. Duas ou três braçadas e alcançou a
margem e a estrada. A jovem era muito linda, vestia um vestido branco e um
pouco surrado, entre os seios uma rosa vermelha, dava um ar primaveril e um
sorriso estonteante fez com que seus sentidos ficasse aguçados.
Um pouco de conversa e um toque no rosto foram o suficiente para que
arrancasse dela um leve beijo. Mais um pouco e forçou um beijo mais longo
enquanto apertava seu corpo ao dela. Suas mãos ágeis percorreram as costas e
nádegas, mostrando a ele o que iria encontrar quando a desnudasse.
O que o deixou cismado era o sorriso que nunca saía dos lábios dela e o
silêncio depois do beijo, nenhuma palavra, apenas o sorriso. Contudo seus
instintos de um animal no cio já estavam acionados e partiu para o ato carnal.
A jovem deitada sobre a grama, braços abertos e a rosa vermelha, que
antes enfeitara os seios, agora estava entre seus lábios. Ele deixou escapar um
riso devido a graça da jovem e ajoelhou entre as suas pernas, febril e excitado
pelo rosto lindo da jovem, começou a levantar o vestido dela.
- Como é seu nome?
- Elisa. Elisa Day.
Quando suas mãos alcançaram as pernas da jovem, teve um sobressalto, um
grito sufocado pelo medo e caiu para trás. Eram pernas peludas e ao invés dos
pés cascos, como de um bode. Ela mantinha ainda o mesmo sorriso com a rosa
vermelha entre seus lábios, enquanto ele corria desesperado e nu pela estrada,
não conseguia olhar para trás, mas podia sentir um hálito quente em sua nuca e
ouvir um sussurro em seus ouvidos. Me ame! Me ame!
Acelerou sua corrida e mesmo assim, ainda sentia o mesmo hálito quente
na nuca e o tropel de cascos cada vez mais próximo. Tentou gritar, não
conseguiu. Procurou um lugar para pedir ajuda. Só o Mosteiro estava visível.
Lembrou de Deus, uma oração confusa surgiu em sua mente. O coração parecia
querer saltar da boca e faltava coragem para olhar para trás. De repente uma
risada estrondosa e um risco correu pelo céu azul e explodiu do seu lado, outro
e depois mais outro, mais risadas e finalmente uma explosão atrás fez seu corpo
ser atirado sobre uma cruz de pedra, que demarcava a entrada do pátio do mosteiro.
O peito queimou e a dor o fez perder os sentidos. Enquanto caía, ainda pôde ver
o sorriso estampado naquele rosto angelical se aproximando.
O velho abade saiu pela grande porta de madeira, água benta numa mão e
na outra um crucifixo. Levantou o jovem com a cruz tatuada no peito e o levou
para dentro.
Na manhã seguinte, ao soar o sino para a primeira oração do dia, onze
jovens, cabisbaixos e com as cabeças cobertas pelo capuz da roupa, surgiram
pela porta em direção ao altar, onde o abade e o seu auxiliar os aguardavam.
- Acho que vamos precisar construir mais algumas celas para recebermos
novos jovens farristas e sedutores. Disse o velho abade com tristeza.
Bob permaneceu ali até a sua morte e foi considerado como desaparecido
pelas autoridades, seus pertences foram devolvidos para a família e o corpo
jamais encontrado, apesar dos esforços nas buscas por toda extensão do rio.
* (baseado nas
Lendas Urbanas – Elisa Day – Irlanda Medieval e Santuário das Angústias –
Espanha)
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