quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O Casamento de Antônia - Kiko Zampieri





Antônia iria realizar seu grande sonho. Casar-se com Paulo Augusto, um colega do trabalho por quem se apaixonara numa confraternização de Natal. Do primeiro contato até o noivado e o casamento, foram apenas dezoito meses. Diferente do seu antigo relacionamento que havia durado oito anos.
Naquela manhã acordara cheia de vida, alegria e nervosismo. Os dois pertenciam a Classe Média trabalhadora e sendo assim os recursos eram escassos para a realização de uma bodas perfeita, porém nada importava para ela, estar junto a Paulo Augusto já seria mais que perfeito. O vestido de noiva era alugado. Uma amiga iria fazer a maquiagem. O primo a levaria até a igreja num Corcel II antigo. Para ela ainda assim era um lindo conto de fadas e ela a Cinderela.
Antes dos preparativos, Antônia e sua prima Ana, foram até a pequena casa alugada, um quarto e cozinha nos fundos de uma outra casa, levaram os últimos presentes e aproveitaram para ajeitar o restante dos utensílios e aparelhos domésticos que haviam sido entregues no dia anterior.
O casamento estava marcado para as dezesseis horas e o sol já estava a pino e Antônia, ainda estava na nova casa. Ana a apressou e foi na frente para buscar a vizinha que faria a maquiagem.
Três horas da tarde e Antônia já estava vestida e sentada em frente da penteadeira de sua tia Júlia, esperando aflita pela vizinha. Nada. Abriu então a gaveta do meio da penteadeira, tirou o estojo de maquiagem e fez ela mesmo. Prendeu o cabelo e colocou a tiara de pedras brilhantes, pronta saiu pelo estreito corredor até o portão da casa. Onde estava o primo com o Corcel II? Nada. Ficou apavorada. Era para ser o dia mais feliz da sua vida e parecia que o destino jogava contra ela. Suava. Olhou para os dois lados da rua na esperança de ver o Corcel II chegando. Nada. Suou ainda mais de nervoso. Quase chorou, não podia, estragaria a sua maquiagem.
Quinze e quarenta e cinco. Desespero. Sentia falta de um celular. Deveria ter comprado um bem baratinho, mas preferiu guardar o dinheiro para a viagem de lua de mel. Quinze e cinquenta. Nada do Corcel II. Aflição.
A cena era dantesca ou grotesca. Uma noiva na calçada andando de um lado para o outro, aflita, desesperada e excomungando todos os deuses. Até ser despertada pelo som de pneus sendo travados no asfalto. Era João, o ex-namorado e vizinho, que parava ao seu lado e abria a porta do passageiro da velha Brasília. Não tinha opção, entrou.
Dezesseis e cinco. Tudo bem! A noiva sempre atrasa. Nem ouvia direito as palavras de João, que pedia perdão pela sua covardia e que estava arrependido de não ter lutado por ela, ou coisa parecida. Ela mal ouvia com os olhos presos no vidro do para-brisa, atenta ao caminho para a igreja.
Dezesseis e vinte e dois. Enfim! A escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nem se despediu do João, subiu as escadas segurando o vestido alugado para não tropeçar. A porta estava aberta, se ajeitou, sacudiu o vestido, apertou nas mãos a grinalda de flores artificiais, enxugou algumas gotas de suor, que insistiam em correr pelos lados da sua face e entrou. Onde estavam todos? Vazia. A igreja estava vazia, escura e silenciosa. Paulo Augusto, Ana, sua mãe, suas tias, suas amigas, os padrinhos, ninguém. Uma dor no estômago. Um vermelho escorrendo pelo vestido branco. Um grito surdo.
Na pequena casa de dois cômodos, era onde todos estavam. Paulo Augusto, Ana, a mãe, as tias, as amigas, os padrinhos, policiais e João sentado ao lado de Antônia, arrependido pedia perdão pela sua covardia.

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