Um quarto do motel na beira de uma rodovia interestadual. Vários carros
da polícia local e estadual. Um policial caído, sem vida, próximo da porta da
suíte 14. Lá dentro um soldado reformado e uma mulher. Todos aguardavam a SWAT,
um negociador e um final sem mais mortes.
William J.P. Hooper, Ex-combatente da Guerra do Golfo, 28 anos, voltara
para casa a dois anos, depois de ter servido por seis sob o sol escaldante do
Iraque, ter recebido duas medalhas de Honra ao Mérito uma por bravura e outra
por ter tomado, sozinho, um vilarejo de rebeldes, agora estava naquela suíte,
recostado na parede ao lado da cama, erguida como uma barricada, com sua Eagle
45 numa das mãos, enquanto a outra acariciava os cabelos ruivos de Laura, seu
único e grande amor.
A história desse casal era comum, como tantos outros, onde o jovem, com
o intuito de servir sua pátria, partia para os campos de combates, deixando
para trás uma vida cheia de sonhos.
Os dois se conheceram no colégio, de famílias simples, nascidos em uma
cidade interiorana, pais fazendeiros, e sonhos conversados sob a sombra de uma
árvore. Ela queria ter muitos filhos, cavalos e um pequeno jardim. Ele, ter a
sua própria fazenda, filhos, cavalos e cachorros e uma picape vermelha.
Como nos velhos filmes de guerra, ela se viu na praça da cidade se
despedindo daquele rapaz alto, uniformizado e com o mesmo sorriso. O coração já
estava cheio de saudades, temerosa pelos perigos e impondo uma correspondência
diária.
Ele, cheio de brio e ansiedade, peito estufado, o coração vibrando e a
mente cheia de fantasias, resultado dos velhos filmes. Seria um herói.
A realidade, porém, é negra e opaca com as fantasias e sonhos e o que
deveria durar um ano ou menos, durou a eternidade de seis anos.
Durante esse período, as coisas foram sendo alteradas, paulatinamente,
primeiro as cartas diárias, passaram para semanais, mensais, uma por ano e no
final cessaram. O sonho de ser fazendeiro ficou perdido entre corpos
estraçalhados de homens, mulheres e crianças. A alegria do ócio do campo, sol,
olhar as estrelas, parques de diversões, deu lugar ao medo, ao ódio, as
insônias e por fim os sentimentos de um jovem normal. Só uma coisa não se
perdeu nas areias do Iraque, Laura. A foto embaçada pelo desgaste ainda
permanecia no bolso esquerdo do uniforme de batalha. O coração frio e duro
ainda mantinha uma chama acesa, Laura. A mente deturpada pelas batalhas, mortes
e perdas de amigos, ainda se mantinha lúcida com as lembranças de Laura. Tudo
isso juntou-se a sua baixa, depois de ter tomado sozinho um vilarejo de
rebeldes. Uma medalha e a passagem para casa.
Na rodoviária apenas a mãe e o irmã caçula. Nada de Laura. E para
piorar um silêncio toda vez que perguntava por ela. Gelou. Não queria nem
pensar na hipótese que ela havia falecido. Não. Graças a Deus. Foi pior, ela se
casara há dois anos e mudara para outra cidade. Um desconhecido que vendia
equipamentos agrícolas chegara na cidade e em pouco tempo se apaixonaram e se
casaram e por insistência dela mudaram para outro lugar.
Os pais sentiram a mudança no comportamento, porém não quiseram
interferir quando ele retirou todo o dinheiro que havia economizado para a
compra de sua fazenda e comprou uma picape vermelha, fez uma pequena mochila e
disse adeus a todos.
Pouco tempo depois conheceu uma garçonete, ruiva, jovem, linda e
casada, começaram a sair secretamente. Fora encontrada num quarto de motel,
nua, estrangulada e sem os olhos.
Em sua mente, o que poderia ser um remorso, tornou-se um bálsamo,
sentado em sua picape na beira da estrada, mantinha-se focado no horizonte, um
leve sorriso em seus lábios e um endereço escrito num pedaço de papel em sua
mão.
Daquele dia até aquele momento no motel, foram nove jovens ruivas, nuas,
lindas e sem os olhos.
O FBI havia chegado até ele devido a uma foto que uma das jovens tirara
e enviara para uma amiga, dela com ele encostados na frente da picape. Uma
patrulha policial reconheceu a picape estacionada naquele motel e foram
averiguar, um casal havia dado entrada e estavam alojados na suíte 14. Os
policiais foram averiguar e quanto bateram na porta foram recebidos a bala,
matando um deles, o outro, ferido, fez o chamado e cercaram o motel.
O telefone tocou dentro da suíte, cinco toques até que William
atendesse, era o negociador do FBI. Primeiro queria saber se ele queria fazer
alguma exigência, negada, depois perguntou sobre a mulher, seu nome e qual a
participação dela. Laura, respondeu imediatamente, a segunda sussurrou apenas
que ela a mulher de sua vida. Desligou. O pessoal do FBI confirmou que a mulher
era mesmo Laura Thompson, sequestrada há dois dias de um hospital, onde fora
fazer os exames para marcarem o parto. O marido fora morto no estacionamento
com uma faca de combate usada pelos soldados.
Uma hora depois outra ligação, dessa vez era a sua mãe, que havia sido
trazida para tentar dissuadi-lo a se entregar e soltar a moça.
- Mãe! Me
perdoe! Não sei no que eu fui transformado na guerra, mas peguei gosto pelo
assassinato. Naquele vilarejo, matei homens, mulheres e crianças, que nunca
haviam feito mal para mim, e sinto falta desses momentos. Por isso me perdoe.
Um clique no telefone e o estrondo
de um tiro. A SWAT teve ordem de invadir, mas era tarde, William tinha a cabeça
pendida sobre o seu próprio peito, faltando a parte esquerda, por onde a bala
saíra. A mulher estava deitada no chão com a cabeça sobre as pernas dele, a
garganta cortada, olhos abertos e uma poça de sangue entre as suas pernas. Uma
criança queria nascer naquele cenário de horror. E nasceu com a ajuda das mãos
que entrara segurando uma arma e saíra com uma nova vida.
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