Era uma manhã de sol, comum, rotineira, cotidiana, o velho prédio na
Liberty, St, recebia os primeiros funcionários de várias empresas espalhadas
pelos cinco andares. Naquele horário, os dois estreitos elevadores antigos
ficavam no limite de passageiros, que conversavam sobre o final de semana, os resultados
dos jogos, os passeios com a família, as baladas e algum fato policial dos
noticiários. Apenas uma garota não participava das conversas, dentro daquele
cubículo, quieta, cabisbaixa, um leve tique nervoso, quase imperceptível, as
mãos agarradas a bolsa, como se carregasse um tesouro e os fones nos ouvidos
com uma música soando ensurdecedora.
Saltou no último andar, como fazia há três anos, percorreu um longo
corredor com várias portas até chegar ao seu destino. Blue Star Insurance Co.
Uma empresa que comercializava seguros de vida. Ela caminhou pelos corredores
separados por biombos até uma pequena sala onde trabalhava como digitadora de
apólices, juntamente com outras cinco outras garotas.
Já havia umas duas semanas, que suas companheiras observavam uma
mudança em suas atitudes, até tentaram ajudar, mas receberam o silêncio e o
afastamento. Naquele dia não foi diferente. Sentou-se em seu local de trabalho
e começou a digitar, falando palavras que não eram entendidas, mexendo o corpo
de acordo com a música que saía dos headphones e um olhar quase que petrificado
em direção da tela do monitor.
Helen, que era a supervisora, por duas vezes tentou conversar com ela,
sobre o trabalho que não estava sendo feito, recebeu um olhar vidrado e
profundo, que fez com que um arrepio percorresse a sua espinha. Resolveu
deixá-la sossegada até o final do expediente, quando falaria com o seu chefe e
pedisse para que ele tomasse uma atitude administrativa.
Mesmo naquele clima, a rotina voltou a tomar conta da sala, mesmo com
alguns olhares preocupantes e leves sussurros entre elas, tinham cumprir com
suas metas e assim manterem seus empregos.
Carol, a garota problema, mantinha-se em seu lugar, como uma estátua de
carne e osso, em sua mente um turbilhão de imagens rodavam como um
caleidoscópio, principalmente de seu namorado, que encontrara em sua cama com a
menina que fazia a faxina. Ainda podia ouvir as palavras dele, debochando,
enquanto se vestia e ria saindo do quarto acompanhado pela menina. Feia,
magricela, ruim de cama, insuportável, eram palavras que martelavam seu ouvido.
Agora seus olhos percorriam a sala e via as colegas rindo, cochichando,
sua mão escorregou para dentro da bolsa e sentiu o frio do cabo da faca que
trouxera de casa. Levantou-se, travou o pino da porta e ficou estática e fixada
nas outras que estavam sem entender, ainda não tinham visto a grande faca na
mão direita dela, encostada no vestido.
O que se ouviu depois foram gritos alucinantes e desesperadores por
alguns minutos e depois um silêncio macabro. Outros funcionários tentavam
forçar a porta em vão, a segurança foi chamada.
Carol arrumou cada corpo em sua respectiva mesa de trabalho, deixando
que o sangue se misturasse com as letras brancas do teclado negro, depois foi
se sentar no seu lugar e começou a digitar. A música invadia seus ouvidos pelo
headphone e o seu corpo balançava de acordo com as notas musicais. Um leve
sorriso escapou de seus lábios enquanto guardava na sacola a faca ensanguentada
junto da cabeça de Paul, o seu ex-namorado.
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